Como se sente, agora que este formidável blogue foi encerrado?

05/02/09

Já era

Acaso fosse possível terminar algo que nunca chegou a começar,
eis-me pondo
ponto final
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neste blogue.

19/04/08

Posta de Pescada II: Pinheiros malandros

Uns momentos antes e teria apanhado as árvores em plena cópula.
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Espécime macho.

Espécime fêmea.
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Por Bruno Henriques

21/03/08

Portalegre

Sem grandes floreados. Objectivamente.
Eis a minha Portalegre.
Sem os corpos e espíritos que ma tornaram tão querida e especial, é verdade.
Mas será possível olhar estas fotografias sem rememorar os que ali estiveram?
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Alentejano.


Cantina.

Anexos.

Escola.

República.

Robinson.

27/02/08

Cimeira UE-Rússia, em Mafra

Estava um solinho ameno. O Convento resplandecia nos seus tons marmóreos. Alguns mafrenses, entre aposentados e comerciantes, miravam o aparato da Cimeira junto à Esplanada Real e à Pastelaria Convento. Entre eles e o edifício barroco estabelecera-se uma área de protecção policial duns bons cinquenta metros, plena de grades, fitas e barreiras, e polícias com fartura: apeados, de braços atrás das costas, o uniforme azul aprumadinho; de bicicleta, com uma cinta donde sobressaía o walkie talkie, trajados de pólo e calções azuis escuros; a cavalo, com o chapelito verde e o animal bem escovados, as crinas ondulantes, lustrosas; de mota, a passo de caracol, a percorrer um perímetro mais alargado, os capacetes bem esfregadinhos que podiam servir de espelho; mais tarde haveriam de chegar uns outros, com ar mais sério, roupas escuras e caras tapadas, armados até aos dentes e dissimulados no topo do Palácio e das casas do outro lado do Terreiro – coisa mais ao género de Hollywood. Enfim, um aparato e pêras, algo contrastante com a imperial calma que mesmo naquele dia dominava o sítio.
Os populares murmuravam pacatamente acerca do acontecimento. Presenças assíduas na praça, conheciam-se quase todos e tratavam-se com familiaridade. Na sua calma, porém, não escondiam uma certa indignação pelos modos como tudo aquilo decorria: “...e o meu filho, que hoje até tinha ponto na faculdade, nem sequer conseguiu lá chegar a tempo e horas, porque a auto-estrada estava fechada”, lamentava uma senhora de seus cinquenta anos, o cabelo impecavelmente penteado. “É prò russo poder andar à vontade”, respondeu-lhe um outro cinquentenário, encostado ao seu táxi Mercedes. Estavam ambos virados para a construção monumental, de braços cruzados ela, de mãos nos bolsos ele. “Eu, cá pra mim, se o homem tem tanto medo que lhe façam mal, é porque fez alguma”, aventou a senhora com um arquear das sobrancelhas. Uma terceira espectadora, num banco ali próximo, mesmo junto à estátua de D. João V – que estava enfeitada de flores para a ocasião, interrompeu-lhes a conversa, “Como é que se chama lá o estrangeiro?”, ao que os primeiros, em coro, lhe responderam “Pu-tín, Pu-tín”, acentuando com malícia e gozo a última sílaba do nome do presidente russo.
Finalmente, lá saíram as insignes sumidades. Saíram num tropel pelas arcadas gigantes da frontaria do monumento – apesar da esmerada sobriedade dos movimentos – com inúmeros seguranças à civil a rodearem-nos, com alguns jornalistas a metralharem as suas máquinas digitais uns degraus mais abaixo e a abanarem os microfones freneticamente, com um enxame de motas da Brigada a roncarem na estrada, prontas para abalarem a bater a estrada, com o corpo policial ali presente, uns metros mais à frente, a dar asas à curiosidade e a espreitar pelo canto do olho para, num repente, poderem vislumbrar as faces daqueles mediáticos senhores, protagonistas de tão badalado encontro, representantes de um mar de gente desde o soalheiro Cabo da Roca até ao inóspito Estreito de Bering, indigitados com os mais altos cargos da Europa e da Rússia, poderosos e sorridentes.
O alvoroço foi ainda maior quando, já com os senhores da Europa e da Rússia sentados nos carros, limusinas e carrinhas especialmente preparadas para o efeito, aquele batalhão mecânico largou duma só vez, a alta velocidade, num ensurdecedor ronco, pela estreita avenida da simpática vila, via Lisboa.
Num ápice, tudo acabou – as notabilidades abandonaram Mafra e o silêncio, que por breves momentos cedeu o lugar ao rumor das gentes e ao estrépito das comitivas mandantes, voltou.
Naquele instante em que os governantes desciam a escadaria e, sorrindo, acenavam aos locais que os observavam, desejei que um urro de contestação se erguesse gloriosamente das gargantas ali presentes; mas a indiferença foi quase total, só interrompida, aliás, por umas tímidas palmas de uns quantos imigrantes que ali assistiam à cena.
Hoje, enquanto tentava reavivar os acontecimentos daquele peculiar dia, apercebi-me que o que mais profundamente se cravou na minha mente foi o seguinte: Eles são mais importantes que Nós.
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[Sugestão musical: Jeff Buckley - Eternal life]
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«Cime[nte]ira I»
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«Cime[nte]ira II»

«Lado 1»

«Lado 2»


«Cim[ent]eira III»

«Olha aquela ali de top às riscas - bem boa, pá!
(traduzido do Russo)»

«O Sócrates anda sempre de gravata azul»

14/02/08

«Portugês»: umas breves achegas.

Voçê, dame [a tua camisola], vêrde, – escreve-se pior agora que antes?, será mesquinhice andar a catar erros em tudo quanto é sítio público?, qual a importância de escrever bem, sem erros ortográficos e gramaticais?, que dizer de medidas governamentais como aquela que, no ano transacto, ditou que os erros ortográficos e gramaticais não fossem contabilizados nas provas nacionais de Língua portuguesa de 6.º ano?, etc., etc.
Os quatro exemplos que citei para ilustrar estas breves palavras (as quais, por sua vez, servem para emoldurar as fotografias que se seguem) foram retirados de, respectivamente: novela da tvi, poster de fã de Cristiano Ronaldo, série estrangeira da tvi.
Milhentos mais e doutros tipos poderiam ser trazidos à baila, infeliz e comicamente: a translineação nos jornais de referência, os seus des-envolvimento ou can-hoto; os melhor conseguido ou melhor desenvolvido dos comentadores da televisão e da rádio; etc., etc.
Está em vias de entrar em vigor um novo Acordo ortográfico – qual a lógica disto de língua por decreto?, um português sente dificuldades ao ler Jorge Amado ou Mia Couto ou outros que tais? ou perde alguma coisa nisso?, que adianta, afinal, normalizar esta matéria?, etc., etc.
O Português é língua de números grandes: quinta (ou sexta?) mais falada a nível planetar, terceira european world language, “à frente” do Francês (“atrás” do Espanhol e do Inglês) – isto é sinónimo de grandiosidade? motivo de orgulho? pano de fundo para comemorações várias?, isto é uma ferida aberta pela barbárie colonialista? uma tatuagem da perfídia doutros tempos?, o dito Português do Brasil tem secundarizado o dito Português de Portugal?, etc., etc.
Etc., etc.
[Clique para ampliar]
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Portalegre, «recepçáo, pá»

Algueirão, «kando se gosta nã se quê?»

Cartaxo, «melacia».

Santa Margarida da Coutada, «que enrrascada»

Vila de Rei, «ah suas, excelências»

Armação de Pêra, «propriatários»
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Armação de Pêra, «... português é com o Lobo Antunes»

ou «ok, mas bebam menos»
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Pavia, «o gasól tá mai barato acolá no Jequim»

Lisboa, «Abril sempre, facismo nunca mais»

Lisboa, «espero que ningém se desconcentre do conteúdo»

28/01/08

Turismologia

Prezados comparsas,
Se o trabalho é uma arma de controlo de massas super-eficaz, o que dizer do turismo? A opinião pública, que, lembremo-nos sempre, é a que é publicada, nunca pôs as coisas nestes termos, aliás controversos. A questão é, como no tema «trabalho» e outros que tais, desviada: repete-se a pseudo-discussão dos, assim no-los apresentam, negativos impactes sociais e ambientais, invariavelmente rebatidos pelos, assim no-los mostram, positivos impactes económicos, e nestes e noutros tv shows se esvai o debate, a reflexão, o progresso, seja lá isso o que for.
É curioso ver como no nosso já de si mui peculiar país se cruza o tão-nosso jeito de ser com este pujante ímpeto turístico, que leva a que cruzem as nossas fronteiras, a cada ano que passa, sensivelmente treze milhões de pessoas, três milhões mais que o total da população nacional. Nos entrementes desta realidade, diplomam-se jovens, canalizam-se dinheiros, propagam-se
resorts, harmonizam-se leis, tudo isto lá longe, acima das nossas cabeças, indiferente à nossa opinião e interesses, como, de resto, sempre nos fomos acostumando.
Deste pouco a que levemente fiz menção, que me dizem?
Das esquentadas águas de São Torpes ao religioso negócio de Fátima, das soalheiras ruas da Nazaré até aos altos prédios de Armação de Pêra, dos tisnados barqueiros de Almourol aos egrégios conventos e mosteiros do miolo da pátria, das concorridas praias de Tróia até às anciãs alturas de Penha Garcia e às medievais muralhas de Marvão, o turismo molda a mais antiga das paisagens, a mais típica das traças urbanas, molda-nos, ou nós a ele, ou das duas coisas um tanto.
Talvez aí tenhamos um bom ponto de partida para uma amena cavaqueira devidamente regada a tinto e café, emoldurada pelo inspirador som das cordas de Paredes.
Até uma próxima.
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São Torpes, «sol & praia I»
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Fátima, «choque religioso»

Nazaré, «artigos regionais»
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Armação de Pêra, «janela do progresso»

Armação de Pêra, «i quê»

Castelo de Almourol, «combustível»

Mosteiro da Batalha, «arruma-me aí este andaime, fachavôr»

Convento de Tomar, «às dez da manhã os aspiradores fazem muito eco nos claustros»

Tróia, «sol & praia II»

Penha Garcia, «feira medieval»

Marvão, «o turismo, ou nem tanto»

27/01/08

Olá, passou bem?


Eis-nos aqui hoje reunidos, em nome duns e doutros, para dar o pontapé de entrada num novo blogue, que se quer tão original quanto todos os oitenta que são mundialmente criados a cada minuto que passa, tão bom quanto todos os incontáveis milhões que pululam na dita esfera blóguica, tão limitado quanto nós próprios, eu dando, vocês recebendo e, queira deus ou outra qualquer sumidade metafísica que não a eternamente ilibada vontade humana, vice-versa.
Portanto, potencialmente mágico, provavelmente insipiente.
Enfim, darei dalguma maneira vazão ou serventia ao considerável rol de instantâneos digitais que fui sacando por onde fui passeando os proverbiais presuntos com que a mãe natureza e o pai naturezo me brindaram faz agora já para cima de um quinto de século e que terão, falo dos instantâneos, a pretensão de aludir a uma cambada de temas, que vão desde isto até aquilo, passando por aqueloutro, e mais não digo, não por não ter precisão de fazê-lo, mas por fastio da minha desconcentrada eloquência.
Obrigado pela preferência, volte sempre.