Como se sente, agora que este formidável blogue foi encerrado?

28/01/08

Turismologia

Prezados comparsas,
Se o trabalho é uma arma de controlo de massas super-eficaz, o que dizer do turismo? A opinião pública, que, lembremo-nos sempre, é a que é publicada, nunca pôs as coisas nestes termos, aliás controversos. A questão é, como no tema «trabalho» e outros que tais, desviada: repete-se a pseudo-discussão dos, assim no-los apresentam, negativos impactes sociais e ambientais, invariavelmente rebatidos pelos, assim no-los mostram, positivos impactes económicos, e nestes e noutros tv shows se esvai o debate, a reflexão, o progresso, seja lá isso o que for.
É curioso ver como no nosso já de si mui peculiar país se cruza o tão-nosso jeito de ser com este pujante ímpeto turístico, que leva a que cruzem as nossas fronteiras, a cada ano que passa, sensivelmente treze milhões de pessoas, três milhões mais que o total da população nacional. Nos entrementes desta realidade, diplomam-se jovens, canalizam-se dinheiros, propagam-se
resorts, harmonizam-se leis, tudo isto lá longe, acima das nossas cabeças, indiferente à nossa opinião e interesses, como, de resto, sempre nos fomos acostumando.
Deste pouco a que levemente fiz menção, que me dizem?
Das esquentadas águas de São Torpes ao religioso negócio de Fátima, das soalheiras ruas da Nazaré até aos altos prédios de Armação de Pêra, dos tisnados barqueiros de Almourol aos egrégios conventos e mosteiros do miolo da pátria, das concorridas praias de Tróia até às anciãs alturas de Penha Garcia e às medievais muralhas de Marvão, o turismo molda a mais antiga das paisagens, a mais típica das traças urbanas, molda-nos, ou nós a ele, ou das duas coisas um tanto.
Talvez aí tenhamos um bom ponto de partida para uma amena cavaqueira devidamente regada a tinto e café, emoldurada pelo inspirador som das cordas de Paredes.
Até uma próxima.
[Clique para ampliar]
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São Torpes, «sol & praia I»
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Fátima, «choque religioso»

Nazaré, «artigos regionais»
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Armação de Pêra, «janela do progresso»

Armação de Pêra, «i quê»

Castelo de Almourol, «combustível»

Mosteiro da Batalha, «arruma-me aí este andaime, fachavôr»

Convento de Tomar, «às dez da manhã os aspiradores fazem muito eco nos claustros»

Tróia, «sol & praia II»

Penha Garcia, «feira medieval»

Marvão, «o turismo, ou nem tanto»

6 comentários:

Anónimo disse...

Grave, mesmo grave, valorizar apenas aquilo que tem algum potencial lucrativo e desprezar aquilo que não o tem. Assim se confunde valor económico com outros valores.


******** Thinque uést ***********

André Campos disse...

Anónimo camarada,
Isto é uma pergunta: isso foi conclusivo?

»pense-se oh!-este«

Anónimo disse...

Eu não colocaria a coisa em termos de conclusivismo ou inconclusivismo. É uma coisa que se verifica com frequência, no que ao turismo concerne. Parece-me também que prevalece nas sociedades ocidentais, geografias à parte, uma visão economicista que se estende a quase todas as áreas da vida, e que não é de agora, mas que não pára de se reforçar, e todo o discurso em torno do turismo constitui mais um mecanismo de reforço.
Decerto que isto é inconclusivista, tal é a falta de fundamentação com que o digo!

----- sink west -----

André Campos disse...

Isso de que falas será mais ou menos a extrapolação a praticamente todos os quadrantes da sociedade (e da vida) da governamental paranóia do défice, dos <3%? Nessa lógica, parece certo que o turismo constitui precisamente como que um "reforço", como tu disseste, desse desígnio e bitola nacionais.
Mas diz-me outra coisa: falar sem (ou com pouco) fundamento é equivalente a Inconclusivismo? E outra: como analisar esta questão da «deficiocracia» ou como lhe quisermos chamar inconclusivisticamente? Será que o que até aqui já se disse não é, por si, conclusivo?

*stink west*

Anónimo disse...

Falar sem (ou com pouco) fundamento quase nunca é inconclusivista, bem pelo contrário. Agora, não me parece necessário rematar tudo o que digo fazendo as devidas ressalvas inconclusivistas; o inconclusivismo é como que o substrato de tudo aquilo que penso.
A "deficiocracia", penso eu, pode incluir-se num conceito mais abrangente que é o "capitalismo".


*****Think Best*****

André Campos disse...

A propósito de Capitalismo - tenho lambido com avidez aquela prodigiosa Malasartes que comigo fizeste o abençoado favor de partilhar, e por lá muito (e bem) se fala acerca disso: do que mais me tem impressionado é a (por assim dizer) argumentação contra a Democracia, nomeadamente nestas duas "frentes" indirectas: a legitimidade democrática do Fascismo e consequentes reciprocidades entre os dois sistemas; e a, digamos, "finalidade" comum (ou fundamento comum, ou ambas as coisas) desses mesmos dois sistemas: justamente o Capitalismo.
É praticamente consensual entre os turismólogos que o boom turístico (nos países industrializados) se deu a partir da década de 1950 - nessa altura, o Fascismo estava bem propagado pela Europa, da mesma maneira que está hoje a Democracia (e hoje o Turismo é #1). Pois então, se o Turismo é coisa de âmbito e alcance em tudo associado à doutrina capitalista, eis, como dizem os malasartistas, um elo que aproxima os dois sistemas e que demonstra as suas metas comuns.
No fundo, muda o balde, mas a merda é a mesma. Ou não?

«Speak west»